domingo, 3 de julho de 2011

Manifesto lido no sarau poético-musical da Rua Frei José dos Inocentes, em 2 de julho de 2011

MANIFESTO PELO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS



Moradores e Amigos do Centro Histórico de Manaus,

Estamos diante de um rico patrimônio, que precisa ser preservado. A rua Frei José dos Inocentes, junto às ruas Bernardo Ramos, Sete de Setembro e Visconde de Mauá, formam o primeiro núcleo de povoamento de Manaus. Aqui surgiram as primeiras casas, o primeiro bairro, o primeiro cemitério, o primeiro quartel, o primeiro bar... Enfim! As primeiras referências de nossa cidade.
Esta importante área representa, com seus prédios construídos na época do Império e da República do Brasil, um dos bens mais valiosos da nossa herança cultural. Ainda hoje, como no início da formação da cidade, e do nosso antigo bairro de São Vicente de Fora, no século XVII, as ruas são ocupadas por residências – um fato relevante, se considerarmos que o progresso desordenado costuma empurrar as pessoas cada vez mais para longe de suas antigas referências históricas, transformando-as num aglomerado urbano e sem memória.
Sabemos da importância deste patrimônio para todos nós. Aqui está um dos mais importantes referenciais de nossa memória histórica e cultural. Apesar de seu aspecto cosmopolita – impresso, desde a fase áurea da borracha à implantação da Zona Franca, com a ida e vinda de estrangeiros, que vêm conhecer nossa floresta – Manaus não é, e não pode ser apenas, uma “cidade de passagem”. Temos, portanto, razões suficientes para pensarmos no melhor para todos nós, que vivemos aqui.
O descaso com a cidade e, especialmente, com o centro histórico, ao longo de décadas, contribuiu para que essa área fosse relegada ao abandono e degradada moral e ambientalmente. Não podemos mais agir, como tantos que, sem visão de urbanidade, descaracterizaram a cidade, com a demolição de prédios históricos, de árvores centenárias, de ruas e praças, para impor-nos um presente caótico e um futuro sombrio.
Temos às nossas mãos, o compromisso presente de fazermos história. É imprescindível que trabalhemos juntos, em prol das necessidades que nos são comuns. O passado e o futuro possuem uma linha tênue e sutil. Se soubermos olhar os dois, com responsabilidade e respeito, estaremos preservando a memória, e deixando uma rica herança aos nossos filhos, e aos que vierem depois de nós.
É este o nosso papel! Por isto, propomos “pensar” a cidade, de forma sustentável, instituindo o Centro Histórico como espaço-referência da urbanidade do pensamento e expressão artística e cultural do Amazonas.

a) Núcleo dos Moradores e Amigos do Centro Histórico de Manaus



REFERÊNCIAS HISTÓRICAS
O conjunto arquitetônico do centro histórico de Manaus, formado pelas ruas Frei José dos Inocentes, Bernardo Ramos, Sete de Setembro e Visconde de Mauá, representa o primeiro núcleo de povoamento de Manaus. Localizado a oeste da fortaleza erguida pelos portugueses, em 1669, para demarcar seu domínio na região, este importante conjunto arquitetônico, do centro de Manaus, é o marco de nossa cidade, onde tudo começou.
Nessa área, formou-se o primeiro bairro de Manaus, ainda no século XVI, o bairro São Vicente de Fora – assim chamado, por referir-se a um santo venerado em Portugal. O antigo bairro unia as residências da ilha às do continente, através de uma ponte de madeira. O casario em estilo colonial, ainda existente à Rua Frei José dos Inocentes, é o que resta da primeira expansão da capital do Javary (ou Hiauary).
Foi no bairro São Vicente de Fora, que, em 1791, ao final do século XVIII, Lobo D’Almada, terceiro governador da Capitania de São José do Rio Negro (nome que a cidade recebeu, ainda no império) mandou construir um quartel de milícias, onde hoje se encontra instalado o 9º. Comando Naval da Marinha do Brasil.
Nessa área histórica foram erguidas obras importantes, como a cadeia pública – hoje, Palácio Rio Branco –, o cemitério “Primitivo Lazareto” (1845) e o Hospital Militar, em 1855.
Também em São Vicente de Fora ocorreu o primeiro motim célebre e realmente perigoso, que sacudiu a vila e abalou a estrutura política do império, em 12 de abril de 1831, em decorrência do não pagamento dos vencimentos à tropa de soldados, pelos “bicudos” (apelido dado aos portugueses natos, que controlavam a província).
Esta importante área histórica de Manaus já abrigou, no entorno da Praça Dom Pedro II, a Prefeitura de Manaus e a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. No local, encontram-se instaladas as sedes do Quartel do Exército e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, o IGHA, na casa onde viveu um eminente amazonense, Bernardo Ramos. Além dele, aqui residiram também muitos outros amazonenses célebres. (Pesquisa: Igarapé Produções)